segunda-feira, 16 de março de 2009

VARIOLA AMEAÇA COMO AGENTE DE BIOTERRORISMO

Em recente publicação, no final de 2001,14 pesquisadores do Food and Drug Administration, EUA, analisam o desenvolvimento de novas vacinas antivariólicas em resposta à ameaça de uso do vírus da varíola como arma terrorista. Embora se falasse no passado que havia um risco teórico disto ocorrer, surgiram evidências de que algumas nações ou grupos pudessem ter estoques clandestinos do agente, apesar do vírus estar armazenado em somente dois locais no mundo todo, sob condições de segurança máxima. A ameaça de seu uso como arma biológica é extremamente preocupante, já que se trata de um vírus que pode ser fatal, é facilmente transmitido, pode ser produzido em grandes quantidades e pode ser armazenado por um longo período15 16.

Caso venha a se concretizar o uso do vírus da varíola com finalidade terrorista, poderia causar um impacto de proporções difíceis de calcular. Após a erradicação da doença e subseqüente interrupção do emprego da vacina, boa parte da população mundial está desprovida de imunidade. Isto poderia levar a epidemias com letalidade superior a 25%17. Para enfrentar uma ameaça dessa magnitude, os estoques vacinais disponíveis em setembro de 2001 eram absolutamente insuficientes. Eram disponíveis nos EUA cerca de 15 milhões de doses, produzidas décadas antes. Em cálculos efetuados quanto ao número de doses necessárias para controlar a disseminação a partir de um foco, foi lembrada a experiência na Iugoslávia, que em 1972 teve que aplicar 18 milhões de doses por causa de um único caso14. Assim sendo, o governo dos EUA solicitou aos quatro laboratórios do país com capacidade industrial de produção desta vacina, e posteriormente a um laboratório francês, que trabalhassem em regime de urgência para dotar o país de, no mínimo, 40 milhões de doses, mas se possível 60 milhões, até o fim de 2001. Essas vacinas poderão ser desenvolvidas a partir de mais de um lote semente. No entanto, a não ser em circunstancias excepcionais, só virão a ser empregadas após testes de eficácia ("pega" em pelo menos 90% dos vacinados sem imunidade prévia) e segurança. Essa avaliação terá que seguir regras diversas das atualmente empregadas para o licenciamento de uma nova vacina, uma vez que a varíola não está mais presente em nosso meio e, portanto, não é possível estudo de campo para avaliar a proteção vacinal, além de problemas éticos que impossibilitam estudos com inoculação experimental do vírus da varíola em indivíduos que tenham recebido a vacina.

Na tentativa de garantir números expressivos de imunizações em situações de emergência estão em andamento estudos visando verificar a possível eficácia da vacina diluída 10 ou 100 vezes, considerando os estoques limitados disponíveis atualmente. Enquanto a vacina diluída 100 vezes trouxe respostas imunogênicas muito baixas, quando diluída 10 vezes proporcionou "pega" em 70% dos voluntários que não eram previamente imunizados. Embora esse resultado seja ainda inferior aos 95% quando é empregada a vacina não diluída, abre a discussão para possível emprego de segunda dose com a vacina não diluída nos 30% de não respondedores à vacina diluída após sete dias da primeira dose18.

Finalmente, é importante ressaltar que outros mecanismos de defesa, além da vacina, estão e deverão ser cada vez mais estudados, como medicamentos antivirais, terapias com anticorpos ou seus fragmentos, ou ainda substâncias estimulantes da resposta imunológica. Além disso, deverão ser produzidos estoques consideráveis de imunoglobulina antivaccínia, já que o considerável número de imunodeficientes na população atual (pacientes com imunodeficiência secundária ao HIV, com neoplasias, sob tratamento com substâncias imunossupressoras) faz prever o aparecimento não raro de complicações se for empregada a vacina antivariólica em extensas campanhas de imunização em massa.

Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302002000400045&lang=pt

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